segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

CONCURSO de Ditados Gaudérios sobre Chapecó


"O Câncer" tem a grande satisfação de apresentar o



1º CONCURSO DE DITADOS GAUDÉRIOS SOBRE CHAPECÓ.

É isso aí piazêdo!!! Participem!!!

Eis o regulamento:

- Entende-se por Ditado Gaudério aquelas piadinhas no estilo gaúcho do tipo: mais faceiro que lambari de sanga; mais "por fora" que cotovelo de caminhoneiro; mais perdido que fia-da-puta em dia dos pais; mais folgado que peido em bombacha; mais perdido que gato em dia de faxina; e por aí vai.

- O objetivo do concurso é criar ditados gaudérios sobre temas chapecoenses.

- Os concorrentes devem enviar seus ditados através de comentários para esta postagem, identificando a autoria com nome ou pseudônimo.

- Cada competidor pode inscrever até 7.356 (sete mil, trezentos e cinquenta e seis) ditados. Qualquer tentativa de superar o limite imposto será considera uma falta de absurdo.

- Critérios de avaliação: Este não é um concurso sério, portanto, não há critérios.
- Comissão julgadora: Não há jurados. O destino haverá de escolher os campeões. Talvez o vencedor seja o ditado mais mencionado no município de São José dos Quatro Marcos -MT, no primeiro semestre de 2008, por exemplo, ou por acaso.
- Classificação e premiação: o 1º, 2º e 3º colocados, não necessariamente nessa ordem, estarão sujeitos a sofrerem as consequências advindas da possível repercussão de seus ditados, assim como os demais classificados. Além disso, os vencedores poderão gozar de uma série de sensações e emoções particulares conforme o gosto e o anseio de cada um.

- É permitido e recomendado o uso de ironias, sarcasmos, duplo-sentidos, palavrões, ofensas, grosserias, indelicadezas, ataques a personalidades e pessoas públicas locais, (isso também não é sério), bem como a abordagem de aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos (isso seria interessante).


E para lançar oficialmente o 1º Concurso de Ditados Gaudérios sobre Chapecó, lá vai o primeiro ditado inscrito, assinado pelo idealizador desta maravilhosa iniciativa:


> Mais "dotado" que estátua do Lanzini <





Foto: Portal Chapecó






por Tiago Franz (Gaita Negra)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Salve-se quem puder













Não importa de onde você veio, nenhum lugar poderia ser mais longe de casa do que viver uma mentira. Erro, mas penso por mim mesma. Queridos amigos, a nossa sociedade é incrível. Uma verdadeira escola ao ar livre! Tenho 19 anos e quando nasci meu pai já pensava num futuro para mim, se preocupava muito em me ensinar a que a vida não se resume a uma prateleira de supermercado. Mas naquela época, já haviam duas coisas que ele tinha certeza absoluta de que não precisaria se esforçar para que eu aprendesse, a sociedade se encarregaria de me aperfeiçoar em consumismo e competitividade.

Não precisaria pagar escola, nem impostos, nem fazer absolutamente nada para graduar-me em consumismo e competitividade. Bastou soltar-me aos ventos para que eu me formasse com méritos. Só fui à escola com 6 anos. Aprendi a contar, correr, brincar, abraçar, dar carinho, falar, fazer perguntas, montar quebra-cabeças, pedir licença, desculpas, por favor e muito obrigado com os meus pais, com os avós, com a família! Queriam me manter longe da tirania da perfeição e do consumo o máximo que pudessem.

Não me queriam perfeita, e muito menos mascarada. Exercitaram minha mente para que eu fosse boa de caráter e tivesse criatividade no melhor mundo, que para eles era o meu próprio mundo. Fui à escola e conheci outras formas de “educação”. Cresci chorando todos os finais do ano porque tinha medo de reprovar em matemática. Cresci competindo e sendo comparada com outras crianças por ser dita melhor ou pior do que elas em certas coisas, por ter mais ou menos que elas, por saber mais ou menos, e assim por diante. Estudei fórmulas que nunca mais vou usar na vida para passar pela prova classificatória do vestibular e outras do mesmo gênero. Gênero que decide que o melhor é aquele que faz todos os “X” nas alternativas que eles definiram como corretas. Que decide pela cor, pela classe, pelo sexo, pelo discurso, pela perfeição. E hoje, estudando jornalismo, tenho certeza de que milhares dessas provas ainda me aguardam.

Não importa o que eu faça, caráter e criatividade continuam sendo os pilares dos meus projetos. O que mudou, para o lamento dos meus pais que sonhavam o impossível, é que eu passo todo dia, o dia inteiro, consumindo e competindo. Vim para uma universidade particular estudar para competir no mercado, estudar para ir mostra minha “vitrina” numa feira (sim, alguém disse: - Vocês precisam mostrar o produto de vocês para a sociedade). Vim estudar quatro anos e meio para correr, puxar o tapete dos outros, e provar que sou melhor que eles porque tive a oportunidade de ler algumas apostilas e ir fingir trabalho voluntário e sério, em uma empresa que ganhou uma boa grana para promover “pessoas públicas”.

O mais engraçado é que para competir e consumir é preciso dinheiro, muito dinheiro, sempre dinheiro. Cada vez mais dinheiro para vencer outros, para ter o que os outros não têm, estar onde eles não estão, para passá-los pra trás. Para comprar coisas e mais coisas, construir estruturas e mais infraestruturas para consumir, para vender. De que adianta? Se no final todos vão terminar no mesmo lugar, na linha de chegada da corrida.

Tudo está sendo digitalizado, centenas de trabalhos braçais desapareceram, crianças não vêem graça em pular sapata, em jogar dominó. Elas querem comprar a boneca que grita, porque a da amiguinha só fala. Elas querem andar em brinquedos perigosos e que as fazem sentir medo e gritar feito loucas. Elas vão crescer (leia-se estão crescendo) sem opinião própria sobre as coisas a sua volta, vão agir como se fossem descartáveis e baratas. As crianças do consumismo e da competitividade vão repetir letra por letra, vão decorar os 10 mandamentos, vão rezar 50 ave - marias em 5 minutos, vão confiar mais na televisão do que nos seus pais. Usar a palavra “vão” para estes exemplos torna a situação tão mais amena, não acham?

Eu preciso dizer de quem é a culpa? Creio que não seja necessário agir como “formadora de opinião” nesse caso. Eu não quero ser padrão, não quero saber qual é a cor que vai estar na moda no verão de 2017, não quero saber onde está o papa, e nem que cor estava o cabelo da Suzana Vieira quando o marido dela foi pego com outra no motel. Eu não quero estar desinformada com falsos números de quantas pessoas visitaram a feira tal, não quero saber quantas ovelhas foram leiloadas. Não me comove que o cantor Daniel tenha telefonado para dizer que sente muito pela tragédia que aconteceu. Eu não vou comprar um CD dele por causa disso.

Eu vivo meu próprios mandamentos, reprimidos, mas os vivo intensamente. E se querem saber não são 10, são 8,5 e eu que inventei, eu que sei. Apesar do excesso de informação tento filtrar as coisas, manter meu caráter, minha criatividade. Prefiro coragem à falsidade, prefiro dor à mentira. Por mais longe que eu esteja, sempre vou encontrar meu caminho de volta para casa. Se eu me perder? Prefiro procurar o caminho até encontrar do que ter que optar por outro.

Se eu quebrar a cara? Não importa, tento consertar. Se de acordo com os “padrões” eu ficar com ela estragada? Grande coisa. Nela estarão as marcas do que vivi. Fico com a cara estragada, com a alma ferida, mas com o coração satisfeito por não ter tido uma vida superficial, leviana e muito menos comum. E não, não vou pagar por idéias prontas, por marcas que não senti, e muito menos por uma face moldada que vive apenas para ser mais e melhor que outros. Rousseau, me conte o segredo para não ser ainda mais corrompida pela sociedade.

por nandadreier

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Adidas vai bem, obrigado












Inspirado em fatos banais

Prrriiimmm (tentativa de onomatopéia para toque de telefone). Raul atende.

- Alô.
- Oi, a senhora Marlene está?
- Não.
- Humm... E quando eu posso achar ela em casa?
- Talvez hoje à noite.
- Tudo bem então. É que... Por acaso você não é o Daniel?
- Não. Ele é meu primo.
- Humm... Então você é sobrinho da Marlene?
- Sim.
- Legal. E você pode me fazer um favor?
- Posso sim.
- Eu sou a gerente da loja “dsao pkadspko” e gostaria de agradecer à senhora Marlene por ter comprado um par de tênis para o Daniel aqui na nossa loja. Você pode dar o recado pra ela?
- Posso.
- Só mais uma coisa... Você já viu os tênis?
- Já.
- E você sabe me dizer se está tudo bem com o calçado? Se não aconteceu nada de errado por enquanto?
- Tá tudo bem, que eu saiba.
- Que ótimo! Muito obrigada, viu. Quem sabe eu ligue à noite, tá? Tchau.
-Tchau.

Pausa para indignação. Raul pensa no que acaba de acontecer e fica totalmente embasbacado. Não compreende como manteve a calma e a cordialidade, apesar da secura de suas respostas. Os grilos pulam em sua cabeça. Nunca pensou que fosse passar por tamanha miséria. O tal par de tênis, que já o agradava pouco, torna-se um objeto maldito.

Três dias antes...

Deitado na cama, Raul travava uma luta interna, corpo contra mente, para se levantar. Já eram onze da manhã e vozes vindas do outro lado da porta, que dá para a cozinha, atormentavam os ouvidos do boêmio mal-dormido. Eram vozes eufóricas de quem acordou cedo e “aproveitou” bem a manhã. O sábado é sempre um dia propício para ir ao centro abandonar uma grana no comércio e, segundo a propaganda do Magazine Luiza, ser feliz.

- Agora sim! Eu vou apavorar na escola com o meu Adidas. Olha só que massa!
- Quero só ver, Daniel (quase gritando). Se eu achar esse tênis jogado por aí... Nuuunca maaaaais! Entendeu?
- Ahhh! Chega mãe. Eu já sei.
- E nada de sair com ele de bicicleta. Do jeito que tá esse bairro, é capaz de você voltar descalço. Isso se não levarem a bicicleta também!

A tal bicicleta é uma GTS, especial para manobras. Motivo de inveja entre a gurizada do bairro. Diz o Daniel que vale mais de 600 paus. O tênis é da marca Adidas, modelo ClimaCool. Custou 399 reais, pagos à vista pela mãe, que ganha o suficiente para sustentar a si e ao filho de onze anos, com um controle muito rígido do orçamento familiar. Raul, que mora temporariamente na casa da tia em função da universidade, ouvia tudo, sonolento e um tanto perturbado.

- Não creio que a tia fez isso (pensava)! Por que é que ela faz todas as vontades desse piá? É mimo demais. Não quero nem ver essa merda de tênis. Aposto que é um daqueles “pranchões” enormes que parecem mais um acessório de robô do que um calçado... cheio de frescura e brilho por toda parte, maior que uma cabeça! Daqueles que a gente nota a cem metros de distância. Bem coisa do Daniel. O pior vai ser agüentar ele se achando “o tocha”.

E assim foi. O guri encarnou o Jaspion ou qualquer coisa do gênero. Meiazinha soquete, canela fina de piá, e aquele par de naves espaciais gigantes. Passou o fim de semana todo “matando-a-pau” e, no domingo à noite, ouviu os lampejos de fúria da mãe por ter deixado os tênis jogados na área de serviço, um tanto sujos.

O dia da glória finalmente chegou: segunda-feira. O colégio inteiro teria a honra de adorar a maravilha de perto, e não mais na vitrine da loja. Ou então, sentir a amargura da derrota, por não ter um Adidas ClimaCool de 400 reais como o do Daniel. Foi só calçar o objeto do poder, ir pra escola, desfilar com passos firmes, que nem pareciam seus, e desfrutar da doce sensação de ser o melhor. O Guri se sentiu tão importante que até se deu ao luxo de menosprezar quem quer que fosse.

Na terça, Raul tenta descansar da bateria de trabalhos que acaba de enfrentar, quando toca o telefone. Sozinho em casa, faz um esforço, levanta, e atende.

- Alô.
- Oi, a senhora Marlene está?
- Não.

Responde automaticamente as perguntas vindas do outro lado da linha.

- Espera aí! Estão me perguntando se um par de tênis ridículo está bem? Será que eu dormi e estou sonhando?

E continua respondendo:

- Tá tudo bem, que eu saiba.
- Que ótimo! Muito obrigada, viu. Quem sabe eu ligue à noite, tá? Tchau.
-Tchau.

P.S.: O Jaspion fecha mais com a geração do Raul, entre vinte e trinta anos. No caso da molecada de onze, pode ser essa pôrra de Naruto, Beyblade, e sei lá o quê mais. É tudo japonês mesmo.

Tiago Franz (Gaita Negra)