terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Vida de clichês piegas














I

- Então vai! Se você acha que essa é a melhor opção, que a sorte te acompanhe – dizia Pedro desistindo da idéia.
- Mas não queria que fosse assim. Ainda podemos ser bons amigos. Quem sabe um dia...
- Quem sabe um dia? - interrompeu ele antes que Janaína terminasse a frase.
- Vai fazer o quê? Deixar para o tempo resolver? – questionou Pedro.
- Não é isso – tentou ela argumentar.
- Como não? – perguntou ele num misto de raiva e dor que lhe faziam ranger os dentes.
- É que não dá mais. Você não consegue entender... – vagou Jana.
- Na entendo mesmo. Me desculpe. Adeus!
- Mas...

II

- Alô?! – atendeu Pedro o telefone quase 2h da manhã.
- É a Jana.
- Tudo bem? - foi ele gentil.
- Não! – ela secamente.
- O que foi? – questionou ele já com um nó na garganta.
- Precisamos conversar Pedro.
- Sobre o que Jana?
- Sobre nós! – rebateu ela num sentimento de culpa, dúvida, amor e compaixão.
- Faz um mês que tenho tentando andar sozinho e esquecer isso. Não há mais nós – falou ele da maneira mais racional possível, mas com o coração latente.
- Mas Pedro, não sei se tomei a decisão certa. Tenho pensado em nós - explicou ela.
- Não há mais o que pensar Jana.

III

Se flagrou admirando uma foto antiga dos dois juntos. “Bons tempos”, pensou ele em voz alta. Sentiu saudade, vontade de ligar. Hesitou, desistiu. Fizera seis meses que fugia incessantemente dos pesadelos e da eminência de gritar Jana. Tentou ocupar a cabeça com outras coisas. Deletou a foto do computador. A imagem ficou.

ingo

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Da ira e outros anestésicos


A poltrona já tinha o formato de sua bunda desenhado. Não precisou de muito esforço ao acomodar-se para o ritual de longas horas diante da TV. Controle-remoto em uma mão e cervejinha na outra, ligou bem na hora do telejornal.
- Maldito telejornal!! – urrou ele.
Não gostava de telejornais, mas assistia mesmo assim, pois logo viria o bloco de esportes. Preferia assistir ao futebol: campeonato brasileiro, campeonato espanhol (“lá só tem craque!”) e, claro, os jogos da Seleção brasileira. Suspirava com o hino nacional antes das partidas. Amava o Brasil! Gostava de assistir novelas também.
- Malditos políticos! Nadando em dinheiro e a gente aqui na miséria – pensou ao perceber que o bloco de notícias de Brasília do telejornal havia começado. Precisava de mais uma cerveja.
Depois de amaldiçoar meio mundo durante o telejornal – governantes, grevistas, economistas, manifestantes, estudantes, e até a apresentadora da previsão do tempo, após o anúncio de uma frente fria – lembrou-se da ex-mulher, Cláudia, que o havia abandonado por achá-lo muito acomodado. Tinha que buscar outra cerveja para apagar a lembrança daquela vaca. Antes de levantar-se, prestou atenção na notícia da vinda do presidente do mundo, Jorge Busho, para a colônia Brasil.
- Só faltou o tapete vermelho. Malditos norte-americanos!!.
Na geladeira, a cerveja tinha acabado. Pegou uma coca-cola e voltou para a poltrona. Pôs-se novamente a pensar em Cláudia...
- Maldita mulher!!
Calou-se no instante seguinte. A novela estava começando.

MORAL DA HISTÓRIA: Cão que só ladra e não morde prefere assistir a televisão.

Poi Zé