sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Da ira e outros anestésicos


A poltrona já tinha o formato de sua bunda desenhado. Não precisou de muito esforço ao acomodar-se para o ritual de longas horas diante da TV. Controle-remoto em uma mão e cervejinha na outra, ligou bem na hora do telejornal.
- Maldito telejornal!! – urrou ele.
Não gostava de telejornais, mas assistia mesmo assim, pois logo viria o bloco de esportes. Preferia assistir ao futebol: campeonato brasileiro, campeonato espanhol (“lá só tem craque!”) e, claro, os jogos da Seleção brasileira. Suspirava com o hino nacional antes das partidas. Amava o Brasil! Gostava de assistir novelas também.
- Malditos políticos! Nadando em dinheiro e a gente aqui na miséria – pensou ao perceber que o bloco de notícias de Brasília do telejornal havia começado. Precisava de mais uma cerveja.
Depois de amaldiçoar meio mundo durante o telejornal – governantes, grevistas, economistas, manifestantes, estudantes, e até a apresentadora da previsão do tempo, após o anúncio de uma frente fria – lembrou-se da ex-mulher, Cláudia, que o havia abandonado por achá-lo muito acomodado. Tinha que buscar outra cerveja para apagar a lembrança daquela vaca. Antes de levantar-se, prestou atenção na notícia da vinda do presidente do mundo, Jorge Busho, para a colônia Brasil.
- Só faltou o tapete vermelho. Malditos norte-americanos!!.
Na geladeira, a cerveja tinha acabado. Pegou uma coca-cola e voltou para a poltrona. Pôs-se novamente a pensar em Cláudia...
- Maldita mulher!!
Calou-se no instante seguinte. A novela estava começando.

MORAL DA HISTÓRIA: Cão que só ladra e não morde prefere assistir a televisão.

Poi Zé

3 comentários:

Anônimo disse...

e enquanto ladra sem morder na frente da tv, nao percebe que o q assiste é reflexo da própria ignorância... se esta merda esta ali, é pq vc aceita ela ! ! ! vc faz parte dela!

Anônimo disse...

a alienação estará sempre ali. o que resta é querer fazer parte dela ou não!

Anônimo disse...

o pior é pensar que se é alguém especial, um ser privilegiado, desmassificado, só porque um dia a saída foi encontrada. quanto menor for a ignorância, mais longe se está da felicidade. pelo menos é o que disseram Dostoiévski e Jorge Amado.
mas pelo jeito o cara aí do sofá não foi muito feliz, ou foi?