quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sofrimento involuntário


Som de telefone, ronco de motor, choro de criança, sangue no asfalto, vidros embaçados e eu na janela a pensar: De onde vem a força que arranca de dentro do peito de alguém, sem dó nenhum, um sonho qualquer? Pode lhe parecer um drama, e que pareça se é esta a percepção que tens da dor.
O que há de errado com quem sente? Porque é humilhante chorar, e rir lhes parece a saída para tudo? Não há o que me faça entender a tamanha ousadia com que uns negligenciam os desejos de outros sem ao menos ter piedade.
Carlos Drummond de Andrade disse uma vez que o sofrimento é opcional. E salve o poeta que mais infeliz não poderia ter sido em tal afirmação. Certo de que não optamos pela dor, ele deve ter esquecido que ninguém opta por morar na favela, nem por passar fome, ter um pai na prisão, ter perdido um filho para o tráfico ou ver a mãe apanhar e ter de ficar calado.
Que se escancare o sofrimento, que pixem a palavra dor nos muros da cidade, que os malditos falsos risos que florescem às custas dos que tem que matar para viver sejam abafados por lágrimas, gemidos, gritos de sentimento verdadeiro. E não, não afirmo que a felicidade não existe. Mas garanto que ela também não é algo pelo qual podemos optar. Se formos bonitinhos e baixarmos a cabeça para tudo, talvez possamos ser contemplados com o sentimento escolhido para exprimir uma vida normal. Mas se Deus não existe e as pessoas não prestam, em que devemos acreditar para acabar com esse sofrimento involutário?!

Dolorosamente,

alguém com mais um breve sonho arrancado do peito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Altamente cancerígino!!!
"E não, não afirmo que a felicidade não existe." Conheço bem esse estilo de escrever. Vc não me pegou.
Só posso te garantir que Deus não está nem aí pra sofrimento nenhum. Não é bom questionar os planos divinos.